segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O linchamento de Kadafi

A vítima e o sacrifício: os valores de um retorno à barbárie

O assassinato de Kadhafi, este ato de “vingança das vítimas”, tem por conseqüência que não será jamais julgado. Este assassinato reúne os interesses das empresas petroleiras e dos governos ocidentais. As limitadas informações sobre o regime de Kadhafi não serão jamais publicadas em locais públicos. A substituição das imagens do linchamento pela Organização da Corte Penal internacional tem, sobretudo, a conseqüência de que, ao invés de parar com o discurso, o discurso da violência é dirigido ao infinito. A Líbia, assim como o Iraque e o Afeganistão, será o palco de uma guerra perpétua. E quanto aos nossos regimes políticos, estão enfocados em um estado de exceção permanente. Isto esta acompanhado de uma emergência a um poder absoluto, no qual o ato político se coloca mais além de toda a ordem jurídica.

Uma intervenção militar, insinuada em nome do amor dos dirigentes ocidentais pelas “vitimas das populações de um tirano” é exaltada pela exibição de seu sacrifício, revelando uma regressão de nossas sociedades em direção à barbárie.

A demonstração do sacrifício de Kadhafi como um ícone, confirma o caráter cristão de uma guerra feita em nome do “amor às vítimas”. A destruição da Líbia pelas forças da OTAN se inscreve dentro da longa tradição das cruzadas, das guerras contra a lei simbólica iniciada em nome do homem-deus. Isto foi resultado de uma reorganização da Europa Ocidental sob a autoridade do Papa. Hoje, este conflito, novamente, mais que a guerra contra o Iraque, é produto de uma submissão total dos países europeus sob o império estadunidense.

A guerra para a democracia é a versão post-moderna da “guerra santa”. Isto está consagrado não porque ocorreu contra os “infiéis”, senão pelas exortações do Papa, o representante infalível do homem-deus. Hoje, o caráter sagrado do ataque resulta de uma característica naturalmente democrática de seus comandantes americanos, cujo presidente recebeu o premio Nobel da Paz ao princípio de seu mandato, ainda antes de praticar qualquer ato político. Este prêmio consagra o presidente dos estados unidos como um ícone cristão, como a encarnação da imagem da paz e da democracia. Dentro dessa versão laicizada, ela não está concebida sobre a sacralização do homem concebido à imagem que deus secularizou, porém, à imagem dele mesmo, de sua natureza pacífica e democrática.

Jean-Claude Paye Sociologue. Dernier ouvrage publié en français : La Fin de l’État de droit (La Dispute, 2004).

(Ler completo e no original em -http://www.voltairenet.org/L-image-du-sacrifice-humain-et-le)

Trad. Vera Vassouras

Um comentário:

  1. Poema belíssimo de Raul Longo dedicado à Palestina Livre
    http://gilsonsampaio.blogspot.com/2011/11/pedra-de-davi.html

    ResponderExcluir